Fuja do projeto rapidinho
Imagine que você fica sabendo de um site que, por R$200,00 e a por meio de questionários de múltipla escolha, faz diagnósticos de patologias cardíacas e indica a marcação de angioplastias.
Imagine agora que um amigo seu, que suspeitava estar doente, lhe telefona, felizão, porque tinha recebido um e-mail lá do pessoal do “Diagnóstico.com” comunicando que ele tinha coração de atleta!
A sua reação provavelmente seria chacoalhar o seu amigo pelos colarinhos e perguntar “Você enlouqueceu? ”
Por mais absurdo que isso possa parecer essa situação existe sim, não no âmbito da cardiologia mas no da arquitetura. Vários sites anunciam venda de “plantas prontas” em esquemas parecidos com o do “diagnóstico.com” do seu amigo cardiopata e não faltam incautos que caem nesse conto do vigário.
Se para arquitetos e profissionais do ramo a situação é obviamente caricata, para leigos e clientes em potencial não é com certeza tanto assim, provam-no os milhares de curtidas nas páginas desses sites nas redes sociais.
Parece-me evidente que a causa do sucesso desse tipo de sites é a ignorância que existe na sociedade brasileira sobre o papel do arquiteto, sobre a importância de um projeto completo e detalhado e sobre construção em geral (a responsabilidade dessa desinformação é em boa parte culpa dos arquitetos e suas associações profissionais mas essa conversa fica para outra hora).
É muito comum recebermos consultas de clientes que perguntam se todo o processo de concepção e aprovação de projeto e construção do sobrado que sonharam fica pronto em 6 meses ou se a reforma completa da cozinha e banheiros dá para fazer em um fim-de-semana.
Outros chegam a nós com uma ideia precisa do que querem, mas com expetativas de custo de obra totalmente irrealistas.
Assim, ao vender a esses clientes a ideia de que o maior e mais caro empreendimento que vão enfrentar em suas vidas é algo que pode ser preparado com simplicidade, rapidez e duas trocas de e-mails é, no mínimo, uma enorme irresponsabilidade. Até por que esses sites de “planta pronta” não emitem RRTs de projeto, e portanto os seus autores não declaram para os efeitos legais que o trabalho foi feito de acordo com as normas técnicas e os conhecimentos profissionais adequados, nem que se responsabilizam civilmente pela sua qualidade.
Uma vez que a falta de informações é generalizada e é um fato, é dever do profissional de arquitetura educar o futuro cliente, explicar a necessidade de planejar com cuidado a viagem que vai iniciar, a necessidade absoluta de detalhar projetos, a impossibilidade de obtenção de orçamentos adequados sem essa informação, o tamanho do desastre que o aguarda se decidir pular etapas.
Para que esse tipo de aconselhamento dê frutos, é fundamental a existência de uma relação de cumplicidade entre as duas partes, algo impossível de se conseguir só com dois ou três e-mails.
Escolha um arquiteto, marque uma reunião, estabeleça uma boa relação com ele e não se deixe levar pelo canto de sereia de sites duvidosos. Uma viagem decisiva exige uma preparação cuidada, um bom mapa e um guia confiável.