Loteamentos: projetando para o terreno

Loteamentos: projetando para o terreno

Em um artigo publicado na PINIweb, o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos apresenta uma série de recomendações práticas e cuidados técnicos que deverão ser seguidos no planejamento de loteamentos para evitar os processos erosivos. Seguem alguns excertos, em itálico:

É natural que, no crescimento das cidades, sejam primeiramente ocupadas as áreas de topografia mais suave, sendo com o tempo progressivamente ocupados os terrenos mais periféricos, de relevo mais acidentado e com solos normalmente mais vulneráveis à erosão. Opta-se, nessas novas condições topográficas, em todos os padrões sociais de empreendimentos, por produzir artificialmente, através de operações de terraplenagem pontuais ou generalizadas, áreas planas e suaves para assentar as novas edificações, o que implica em exposições cada vez maiores e mais prolongadas dos solos aos processos erosivos.

Para se ter uma ideia desse caos geotécnico, na Região Metropolitana de São Paulo a perda média de solos por erosão está estimada em algo próximo a 13,5 m³ por hectare/ano, do que decorre a produção anual por erosão de até 8.100.000 m³/ano de sedimentos e sua decorrente liberação para o assoreamento da rede de drenagem natural e construída.(…)

Para além dos motivos expostos, que se prendem com a crescente impermeabilização dos solos, causa principal das enchentes urbanas, associados ao alto grau de assoreamento provocado pelo volumoso aporte de sedimentos, entulhos gerais e lixo urbano, existem motivos mais “egoístas” que podem convencer o empreendedor mais reticente a repensar os seus hábitos construtivos:

(…) os solos superficiais (em nosso clima com 2 metros de profundidade em média), por serem geologicamente mais argilosos e pela cimentação de seus grãos por diversos tipos de óxidos, são muitíssimo mais resistentes à erosão do que os solos saprolíticos inferiores. O ideal, portanto, é não se retirar essa camada superficial de solo; (…) Além de mais resistentes à erosão, os solos superficiais têm melhores características geotécnicas e são mais férteis. Além disso, acrescentamos nós, são mais firmes e consolidados, pelo que requerem um menor investimento em fundações e estrutura que os solos inferiores.

Do mesmo modo, se em terrenos com declividade acentuada se planejar lotes com a maior dimensão paralela às curvas de nível e estimular que as habitações tenham a parte frontal apoiada sobre pilotis (ou expedientes equivalentes), assim evitando encaixes profundos na encosta, a economia conseguida não só em fundações mas também em terraplanagem será considerável.

Em resumo, Do ponto de vista preventivo, é imperioso que a arquitetura e a engenharia brasileiras abandonem o preguiçoso cacoete de adequar o terreno aos seus projetos de prancheta ao invés de adequar seus projetos às características geológicas e topográficas do terreno. Ou seja, deixar de “fabricar”, via intensas e extensas terraplenagens, as áreas planas que seus burocráticos projetos exigem. Os serviços de terraplenagem serão dispensáveis, ou ao menos em muito reduzidos, caso os projetos criativamente se adaptem às condições naturais dos terrenos onde serão implantados. Ganha o empreendimento, ganha a estética, ganha o ambiente.

o artigo completo do geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos poderá ser lido aqui, juntamente com outros 3 sobre o tema genérico das enchentes e sua prevenção.

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