Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo

Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo

Publicamos, em Agosto do ano passado, notícia acerca de um estudo norte-americano sobre eco-consumo, realizado pelo Shelton Group, que revelava vários estereótipos e mitos consolidados sobre o assunto e como isso acabava prejudicando a eficiência do marketing verde.

Numa entrevista concedida à Folha de São Paulo, Fábio Mariano, professor da ESPM e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch, revela que o comportamento do consumidor brasileiro não difere, no essencial, em nada do que foi observado no estudo do Shelton Group para o consumidor norte-americano.

Olhando para a classe C, constituída por famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500 e que em seis anos engordou em 20 milhões de indivíduos, Fábio Mariano afirma que essa população está descobrindo como é bom consumir, mas não se preocupa muito com o planeta.

FOLHA – A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO – Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.

FOLHA – Então a nova classe média não quer saber, digamos, se a carne que compra vem da Amazônia?
MARIANO – Estas pessoas, que até 2000 chamávamos de excluídos, agora estão ganhando uma grana legal para fazer a festa no shopping. E há também o grande boom, que é a expansão do crédito. Mas só isso não adianta. A educação que recebem não está melhor. E precisa ter um certo aparelhamento pessoal para entender o conceito de sustentabilidade.

FOLHA – Mas os mais instruídos pagam mais por produtos verdes?
MARIANO – A classe alta até paga um pouco mais por produtos que favoreçam a sustentabilidade, mas ainda é pouco. Mesmo porque não existem muitos produtos assim no mercado. Você consegue citar dez? E, quando existem, a distribuição é restrita, não é algo disponível para as pessoas da classe C. Vai querer que peguem o ônibus para ir comprar no bairro rico?

FOLHA – Você não considera justo que o custo da sustentabilidade sobre para o consumidor, então.
MARIANO – Não. Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo. Essa imagem de que o consumidor que quer pagar mais é consciente, enquanto o que não quer é um assassino que pretende acabar com o mundo… Vocês deliraram, né?

FOLHA – Poucos consumidores parecem pressionar as empresas…
MARIANO – Só os mais esclarecidos. Porque o consumidor tem um monte de problemas. Tem câncer, Aids, é chifrado, tem de pagar a escola do filho. Vai ter que se preocupar também com salvar o mundo quando a esposa está precisando de um medicamento? Querer que o consumidor, além de tudo, pague R$ 5 numa ecobag no supermercado? Empresa que cobra ecobag não tem vergonha.

entrevista disponível aqui.

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Comentários ( 1 )

  • Louie Moura

    Olá Martha,
    Boa leitura e concordo com a posição do Mariano. “Green is the new black” e as indústrias e comércio, estão a passar para o consumidor um preço extra por esta nova moda. O problemas das modas é que elas não duram para sempre. É preciso algo mais profundo como a educação (tal como foi referido na entrevista) se realmente quisermos falar em um futuro sustentável.

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